“OTCA é um grande mecanismo de integração, temos um bioma extraordinário e o mais importante é que fornece ao planeta 20% da água doce mundial”, Rosalia Arteaga..
Indiferente a posições conspirólogas, nacionalistas, regionalistas e afins... A floresta amazônica deve ser encarada com um Bioma só. E esse bioma transcende a fronteiras geopolíticas, mas pode sim se organizar politicamente numa visão pan-amazônica, no caso diplomática.
Nessa entrevista resgatada do fundo do baú, da época de estudante do autor que não conseguiu publicar, a então Secretária geral da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) Rosalia Arteaga, concedeu uma entrevista no ano de 2007 ao futuro blogger sobre a OTCA e a Amazônia continental.
Qual a importância da OTCA para a América do Sul?
R.A: Primeiro o valor agregado que a OTCA proporcionou aos países a adição de enxergar a bacia em seu conjunto e ter políticas comuns para preservação e o uso sustentável da Amazônia. Também é o exercício de soberania dos países sobre o território amazônico.
Qual a participação do Brasil nessa organização e quais os problemas da região?
R.A. Compartilhar um bioma que tem 40% do território da América do sul e em qualquer proposta de integração no âmbito econômico, a Amazônia tem possibilidades imensas. Por sua biodiversidade, pela sua água, por ser reguladora da temperatura mundial, e por seus vários recursos econômicos. Temos que encontrar um justo meio entre o aproveitamento econômico e a preservação do meio ambiente e o melhoramento da qualidade de vida das pessoas que moram na Amazônia. São vários os desafios e não é fácil viajar e movimentar mercadorias no Amazonas. Temos que melhorar as condições de comunicação aérea e fluvial. Isso é um grande desafio, buscar complementaridade entre os produtos de um país amazônico com o outro. Outra coisa, falta um banco de dados e um estudo de população para dizer quantas pessoas vivem na Amazônia continental.
E quanto a uma linha férrea ligando os dois oceanos da região?
R.A. Integrar oceanos através de linhas de trens e de comunicação é importante. Essa melhora tem que estar acompanhada com o desafio da proteção ambiental e o consenso com as pessoas que moram na região.
Há algum gargalo diplomático?
R.A. Não temos consenso de todos os países da Amazônia Legal, a Guiana Francesa não adere ao grupo.
Qual a participação do Brasil na organização?
R.A. O Brasil como partidário tem que ser um observador da OTCA por compartilhar do bioma. O Brasil tem uma grande vocação integracionista e nesses últimos anos estã abrindo as portas que antes não estavam abertas para a integração.
E como anda a influência externa na região?
R.A A Amazônia é rica e desperta cobiça. Agora os países membros têm que ter políticas adequadas para preservar a Amazônia dessas cobiças. Por outro lado nós e o mundo inteiro temos a responsabilidade de ajudar a mantê-la viva. Mas sem a diminuição da soberania dos países. Um boom de grandes mitos, ali mora muitas pessoas e grupos tradicionais e povos indígenas, com cada pais tendo sua liberdade e soberania da Amazônia legal
E se uma política interna do Brasil interferir com os interesses da organização?
R.A. A OTCA não tem com o que pronunciar sobre uma decisão interna do Brasil.
E quanto ao papo que há ONGs internacionalizando a Amazônia?
R.A. Existem ONGs boas e ONGs ruins. Muitas fazem um papel importante para a região e cada pais tem que fiscalizar as ONGs que atuam em seu território. Uma situação que só pode ser resolvida por cada um dos países.
Nota. A entrevista foi no ano de 2007 e Rosalia Arteaga afirmou na data que ainda não havia sido feita uma reunião dos presidentes da Amazônia, mas felizmente já teve de chanceleres e ministros de turismo. Seria ótimo fazer da OTCA parte da construção da comunidade sul americana das nações. É tão importante a OTCA ser parte dessa iniciativa.
ROSALIA ARTEAGA é ex-presidente do Equador e membra do conselho editorial da enciclopédia britânica.