sexta-feira, 9 de outubro de 2015

O guia definitivo sobre Tararau Por Pedro Wolff Quem já sentou em algum boteco de Brasília com certeza se deparou com aquele cara que vende incenso. Personalidade/patrimônio da cidade, onipresente e querido por todos, a noite traz e leva Tararau. De piso macio, longa cabeleira, colete e bolsa perfumada ele saúda a todos com o seu “tudo em órbita” ou “vocês estão fazendo parte de uma reunião secreta”. Um caleidoscópio biohumano, Tararau carrega com amor seu projeto musical em seu estúdio e ainda é voluntário da Cruz Vermelha Internacional. Você sabia que durante a Copa do Mundo ele prestou apoio ao SAMU aos turistas? Usando do que talvez seja seu maior trunfo: a linguagem. Aquele vendedor carismático domina o francês e ainda arranha um espanhol, italiano, espanhol e inglês. Mais do que os vários idiomas, é do ser simpático e de seu coleguismo para conquistar todos os clientes de Brasília. E assim sobreviver de sua arte. Pode parecer pouco, imagina a trabalheira de intervir mesa por mesa e sempre deixar boas vibrações, mesmo entre os mais sisudos. É porque borogodó ele tem de mais. Seu codinome Tararau nasceu diante dessa necessidade de quebrar o gelo quando praticava trocadilhos bem elaborados na mineira Uberaba ainda nos anos 2000. “Tenho incensos de flores, jardim, cravo, canela e etc e tal e Tararau”. Deste artifício para sobrevivência, o povo de lá lhe imortalizou com tal alcunha. Para entender um pouco mais desse fenômeno urbano é sugerida a leitura de seu livro autobiográfico “Pequeno Perfil de um Camelô”. A obra é uma “mundivisão ou visão global e pessoal, incluindo o hiperespaço (antológico metafísico) e uma forma viva e maneira positiva de encarar o mundo”. Nessas páginas, Milton Leite Tosta dá pistas sobre sua vida e filosofia e descobre-se que ele viveu com os pés descalços até os 12 anos no Sul de Minas. Em um estilo de vida “neolítico”, ou seja, na transição da pré-história até os dias atuais. Chama atenção em sua literatura o relacionamento que tinha com pássaros e a descrição que faz de cada um deles. Em sua criação, crianças armavam arapucas para capturar os passarinhos. Os que sabiam cantar eram vendidos e os que não iam para a panela alimentar uma família composta por ele, um irmão e dois avós. “Já era autônomo desde os cinco anos de idade”, orgulha-se Tarareco. Hoje o próprio reconhece como crueldade, mas na época não tinha julgamentos e era sobrevivência. De todos os pássaros descritos em cada uma de suas “macrobioéticas”, o trabalhador joão-de-barro tem uma empatia especial do autor pelo fato de construir uma casa a prova de tempestades, criar seus filhos e depois ir embora deixando o imóvel a disposição para o próximo animalzinho. E como incansável trabalhador constrói outra casa em outro canto. Essa descrição foi fruto da relação peculiar com um joão-de-barro de Brasília. Em 2010, Tararau seguia para comprar uma salada de fruta em uma parada de ônibus na W3 norte. Lá ele observou um vendedor despejar a agua do isopor na terra e da lama formada vinha um joão-de-barro de uma única pata recolher a lama para construir sua moradia. Essa observação durou por um ano até que o passarinho sumiu.Um ano e meio depois ele ouviu do seu Zé do Meu bar sobre um tal de "pedreiro". Surpreso ficou o camelô vendedor de incensos que o tal trabalhador era o mesmo pássaro que agora recolhia a lama gerada pelo outro ser humano. E segundo Tararau, este passarinho perneta reside até hoje por aquelas bandas. Linha do tempo Tararau não bebe e não faz uso de nada. Ele começa sua jornada de andarilho dos aromas às 20h30, a partir de seu estúdio musical no final da Asa Norte. De lá ruma ao sul fazendo uma média de 30 a 40 bares por noite. Antigamente ficava até mais tarde, mas teve que se adaptar ao horário de fechamento da Lei Seca. Conta que no começo achou ruim, mas depois se adapto e hoje mais prático e rentável, porque trabalha focado em um menor tempo. “Até mesmo para quem trabalha nas zonas de diversão noturna preferem porque alegam que quem chega depois das 2h já veem bêbado de outros lugares e geralmente são barulhentos”. Milton Leite Tosta, atualmente com 53 anos, se criou em Sertãozinho da Borda da Mata (MG). Aos 12 largou Minas e foi para Paulínia (SP) onde adolesceu. Até que aos 20 anos, em 1982, ganhou o mundo quando decidiu ir para a Bahia de dedão. Na volta esteve em Brasília pela primeira vez e foi a São Paulo para comprar material necessário para poder fazer artesanato. Descontente com a situação de desempregado saiu para fazer uma viagem experimental prevista de seis meses a região amazônica, que na realidade durou dois anos. “Depois disso não consegui mais parar de viajar. Demorei quase um ano para chegar ao Norte. Na volta desci pelo Nordeste até o Rio de Janeiro e ainda passei novamente por Brasília”, relata. Tararau conta que gostou muito da Capital da Esperança e decidiu se instalar pela primeira vez em 84. Na época vendia coisas como artesanato, pão de queijo e torta de banana nos bares na noite. Um marco significativo da sua carreira ocorreu nos idos de 85, à época do Plano Cruzado do Sarney, aprendeu a trabalhar com prata em Pirenópolis (GO). Até que um amigo lhe convidou a ir à França. Era difícil,começou lá com prata e tocando música nas áreas externas dos bares, locais semelhantes aos encontrados hoje no Campinense. Ele ainda auxiliava a capoeiragem do amigo tocando berimbau e pandeiro. Juntou-se a dupla um mágico suíço à qual Tararau era responsável pela parte musical. Destaque na labuta para participação na peça dos Saltimbancos em um festival de música medieval em Foix, no Sul da França. Até voltar ao Brasil. Quando na década de 1990 ficou marcado como um verdadeiro pingue-pongue dos sentimentos entre Brasil e Europa. Visitava um amigo lá e depois voltava para encontrar um amigo de cá”.E segue até hoje nesse ritmo, tanto que esteve ano esteve novamente na Europa. Escala e ascensão de trabalho Tararau resume como foi a evolução do seu trabalho. Que a prata lhe deu autonomia para poder viajar até a Europa, coisa que não conseguiria com o artesanato. Na zoropa, a música lhe deu uma autonomia que a prata não permitia: a mobilidade. “Essa coisa de cultura corporal em movimento, desde pequeno não paro quieto e isso me faz bem a saúde”. Nessas andanças pelo mundo foram geradas duas filhas, uma que tem hoje com 24 anos que reside em Belém do Pará e outra que mora na França, com 22 anos. O ano de 2000 foi quando Tararau decidiu morar definitivamente em Brasília pelo fato dele ter sido muito bem recebido e onde de fato começou a trabalhar com incenso propriamente dito. Essa história começou em 1998 quando fechou uma loja de artesanato em Pouso Alegre (MG).Colocou tudo da loja dentro de um ônibus e partiu para a capital do seu país. Até que quando em Uberaba (MG), o ônibus quebrou e por lá ficou. E comprou um Fiat Panorama onde transferiu tudo do ônibus e seguiu rumo ao Planalto Central. Tararau ainda usou este carro por bons anos em Bsb até seu falecimento. Aqui ele materializou o seu projeto de montar um estúdio musical. Hoje ele vende, além de incensos, seu CD de músicas autorais e seu E-book. Desta maneira segue Tararau,de modo a contribuir com o patrimônio histórico e cultural do indivíduo e de um povo, em seu espaço e em seu tempo, dentroda medida do possível, narrando, relatando e descrevendo, certificando e cientificando as imensas dificuldades que enfrenta todo e qualquer trabalhador comum, estudante, escritor ou cientista que decida trilhar ou construir caminhos alternativos, com maior liberdade e autonomia para expressar seus sentimentos e sua compreensão acerca da realidade.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

2009, o ano que vivemos

Por Pedro Wolff Hoje Brasília vive duas crises interligadas que lhe dão ares de uma cidade fantasma. Um é pela crise no caixa que quebrou todo mundo o segundo é aquele embate de gerações que quer suprir a cultura Vamos por partes... Da Brasília esquizofrênica talvez o primeiro caso de monta ocorreu com o, hoje, único bloco de carnaval do mundo com um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), o Galinho de Brasília. Para refrescar a memória, em 16 de fevereiro de 2009, o MPDFT instituiu o seu AI-5 carnavalesco que instituiu que “a passagem do bloco pela comercial das quadras 203/204 sul durará até uma hora, não havendo paradas no trajeto, sob pena de multa (SIC)”. O próprio T-Bone já foi ameaçado por esta Brasília após um show em 2011. Três anos depois foi o Calçadão da Asa Norte sofrer um pedido para cercar e limitar o trânsito de pessoas. Agora qual o critério de seleção para a máquina pública sair lacrando estabelecimentos privados baseados em decibéis enquanto outros permanecem abertos. Ou pior ainda qual a argumentação de nossos administradores para sair demolindo parquinhos, pracinhas e skates parks para combater “o inimigo invisível”. Uma pausa para reflexão: “Quando o criador desenhou Brasília em nenhum momento ele disse que suas ruas deveriam ser mortas ou sem vida”. Em outras palavras, é saudável fazer uso inteligente do espaço público e dessa forma tornar a cidade um Polo criador de manifestações culturais, políticas e econômicas. Do contrário, vivemos hoje numa cidade com toque de recolher e sem um sistema de transporte coletivo 24 horas. Agora entra a segunda parte deste artigo que fala sobre a crise no caixa do DF que reflete inclusive nos grandes eventos gratuitos que esta cidade já viveu. Arrisco que esta crise teve data de nascimento: 27/11/2009, ocasião de deflagração da Operação Caixa de Pandora. Coincidentemente mesmo ano do infeliz revés sofrido pelo Galinho de Brasília. Depois desse ano a economia do DF vive aos trancos e barrancos. Mas até antes da abertura da Caixa de Pandora, nunca antes na história deste país, sua capital vivia momentos tão faraônicos. O povo vivia de circo e grandes obras eram tocadas. Antevisto por uma profecia datada de 1870, Bsb sempre foi o local onde a utopia e a vanguarda caminhavam de mãos dadas. Seu urbanismo e monumentos foi um terreno fértil germinação das mais diversificadas manifestações artísticas e culturais para o povo brasileiro. Estamos falando de uma Brasília que exportou e desenvolveu vários talentos. Mas há menos de uma década cá passaram um raio gourmetizador na diversão para atender a um público que tenha pelo menos uma média de cem reais de dinheiro dispostos a saltar de suas carteiras. Nada de uso do espaço público. Agora, a solução sempre começa pelo diálogo, respeito e como em quase em tudo na vida o bom senso prevalece. Primeira coisa, vamos acabar com essa crise. Todo mundo está falindo e há unidades da federação muito menos caixa que nós, que mesmo sem o dindin e continuam funcionando mesmo charfundando corrupção, o Brasil sempre operou dessa maneira. Vamos dar um jeitinho e deixar a economia fluir por aqui tá... Tira um pouquinho dali e sobe um pouquinho de acolá e plim... As coisas voltam a andar. Agora quanto a questão de querer implodir nossas calçadas para deixar uma cidade morta, a solução é apelar ao bom senso ou aprisionar todo mundo em Unidades de Terapias Intensivas. Mesmo diante deste cenário apocalíptico, floresce na cidade vários segmentos do entretenimento e economia criativa, e alguns fortemente inclinados com o ideal da ocupação do espaço público para dar vida a esta cidade monumental. Concluindo, lembram-se daquela história da carochinha da Pandora e a esperança.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Tantos deuses, tantos credos / Tantos caminhos que serpeiam, serpeiam

Insegurança. Esta é a palavra mais próxima que poderia definir Teobaldo Miranda. Sempre visto como um garoto tímido, introspectivo, bondoso e assexuado.

Desde os primórdios de sua existência seus pais notaram nele características atípicas para uma criança de sua idade. Terapias, psicólogos, ativades de lazer e esportes foram investidos por eles durante sua formação até ele atingir a idade de 19 anos. Quando o próprio se convenceu de que não iria mais conseguir ajuda desse tipo de profissionais. Estranhezas à parte, Teobaldo tinha uma vida funcional na sociedade. Formou-se em uma faculdade e tinha seu grupinho de amigos. Pessoa fragilizada, a sua maior dificuldade era em lidar com sua sexualidade. Seus amigos mais queridos tratavam o tema como tabu, visto que esse assunto o magoava.

Sempre buscando uma forma de se aceitar ou ser aceito pela sociedade, Teobaldo considerou como melhor solução ingressar na carreira de monge, pois sua fragilidade poderia ser fantasiada na condição celibatária de um Monastério. Mas mesmo assim, Teobaldo sabia que não era o suficiente para sanar -se perante si mesmo. Por isso vinha debatendo internamente e externamente com seus amigos mais queridos esta ideia ao longo dos anos. Tentava gradativamente se diagnosticar em algum grau de fobia social.


Ele tinha um cargo médio em uma empresa privada. Fora do mercado de trabalho, seus programas (os considerados cults), eram cinemas, cafés, sarais e campeonatos de esportes diversos. Não transava álcool, drogas e nem avançava noite a dentro em festas. Morava só com a ajuda dos pais em um modesto apartamento no Distrito Federal. Este sempre limpo.

Mas dúvidas, incertezas e fragilidades marcavam a sua vida. Mas como diz aquela expressão: “quem muito escolhe acaba sendo escolhido”. O amor bateu na porta de Teobaldo na altura de seus 26 anos.

Janaína era uma menina meiga. Ambos foram se aproximando aos poucos dentro da empresa onde eles trabalhavam. O primeiro contato deles aconteceu quando Teobaldo foi designado para ensinar o santo ofício para a nova estagiária.
Depois de uma semana de repasse do material de trabalho, aconteceram longas e elucubrativas conversas sobre temas de interesse dos dois jovens enamorados. Poesia, música clássica, pop e lirismo. Ambos saíram para curtir sons e dançar por aí na noite. Conflitos existenciais de ambos também foram discutidos, como as coisas que mais magoam um ao outro, problemas com aceitação dos próprios pais. Suas fragilidades. Visões de Deus e do que seria a vida após a vida. E principalmente: porque o mundo não é ideal. Porque os seres humanos praticam a maldade entre si mesmo e os outros seres do reino animal.

Como em um conto de almas gêmeas, dois corações puros finalmente se aceitaram. Com muita maturidade, ele aos seus 26 e elas aos 22 anos, encaram o desafio de assumir um relacionamento sem o nunca ter feito antes. Essa aceitação foi feita após seis meses de intercâmbio cultural, quando ocorreu o primeiro beijo.

Amor puro e verdadeiro, um boom de carinho, compaixão, cumplicidade e zelo entre dois corpos. Amor perfeito sem vacilos. Apenas candidices. Sem casarem, Maria já dormia praticamente todas as noites com Teobaldo. Servir o ser amado com amor: este era o destino imortal de ambos. Depois de dois anos, o único conflito entre ambos era o fato de Teobaldo dizer a Janaína que ainda não estava pronto para ter um filho.

Sete anos se passaram desde o primeiro beijo quando ocorreu este episódio marcante na vida do casal. Dentro da cabeça de Teobaldo o encanto foi quebrado. Ele, questionando em um ensimesmamento, teve um acesso de raiva e frustração consigo e já não conseguia mais segurar a barra do mundo dentro de sua cabeça. Em um quase surto, porém consciente. Ele começou pedindo um tempo para si mesmo, para que ele pudesse se entender e devolver todo o seu amor a Janaína amada. Um dos problemas foi financeiro e o outro, a insistência de Janaína em lhe pedir ao menos compreensão.

Ele a nega porque não consegue entender a si mesmo. Ela insiste e, pela primeira vez, depois de sete anos, Teobaldo passa a noite inteira deitado sem conseguir dormir, tendo apenas pensamentos pertubadores. Uma semana depois de noites mal dormidas, Teobaldo rebentina todos os seus demônios. Ele que nunca havia tratado mal nenhuma pessoa, o fez como nunca pudera imaginar. Agredir com palavras é pior do que um murro; é pior que uma paulada. Foi como cortar a carne de sua alma gêmea.

Esse acesso de fúria ocorreu na calada da noite. Ele não pôde deixar sua mulher amada na sarjeta. Sua consciência age, após essa expurgação. Ela, falando por sua alma, pede-lhe perdão e que não se vá. Com lágrimas somadas ao seu desespero aceita o amor de Teobaldo. Sem medo, e com certeza de que não haverá arrependimento.

Ele deita em seu colo e chora, por extensas horas. “Nunca me perdoarei por faltar-lhe com este respeito”. Ela lhe diz para não falar bobagem e não consegue pensar em nada, apenas em lhe consolar.

Depois, pelas 5h, o casal consegue dormir para acordar às 9h e irem trabalhar. Foi o abraço mais gostoso de suas vidas. Tudo voltou a ser como era antes. Amor e pureza. Não há livros que possam descrever o quão intenso foi aquele abraço. Aperto gostoso, simbiótico de alivio e conforto.

Porém, quando Janaína acorda, percebe que Teobaldo não está com ela, abraçando-a. Ela parte pela casinha de dois quartos lhe chamando.

-Amor... vamos tomar café;
-Amor... você está no banheiro?

Por último, no segundo quarto, ela encontra Teobaldo na forca, jaz sem vida. Ela senta, chora; e meio conformada chama os bombeiros.


De Maria para Teobaldo

- Meu único amor. Por que você fez isso conosco? Não somente, mas para com todos de nossas famílias, trabalho e que nos serpeiam. Essa é a maior violência que um ser humano pode fazer com o outro. Ninguém sabe o que se passou na sua cabeça. Mas na nossa, de quem fica, é a mais absoluta tristeza e sentimento de impotência de não ter podido lhe ajudar. Você está na história da minha vida e me marcou como nenhum outro.
Seu maior erro foi perdoar a todos os mortais, e como em um flagelo por não se sentir perfeito, não conseguiu se perdoar. Você deu todo o seu amor ao universo, mas faltou amor à sua própria pessoa. Agora, eu consigo, mas é dificíl conseguir me perdoar. Por mais que minha razão me dê certeza de que não tive culpa. Fica um vácuo em minha mente. E se eu não tivesse me envolvido, você estaria vivo? A matemática é precisa e o destino também. E colocar “se” nos meus questionamentos não ajuda, só atrapalha. O destino seria este? Mas Deus me pôs no seu caminho por quê? Agora, o meu legado é sua família e a minha, que permanecem unidas. Mas lhe confirmo, nada foi em vão. Nosso amor continua florescendo. Parta em sua missão para onde quer que você vá. Mas nosso amor continua sendo construído.


Maria virou missionária católica e partiu para o novíssimo continente. Morreu de velhice praticando a bondade por meio da religião e construindo seu amor com Teobaldo. Também em vida ensinou a todos que aceitavam ouvir suas palavras para amar uns aos outros e a amar a si próprio.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Massacre no Realengo escancara várias lacunas

Após o massacre no Realengo, muito têm se questionado sobre por qual razão e qual é o problema que Wellington Menezes de Oliveira para realizar aquele ato inominável. Problemas mentais ficam a parte do exame criminológico. Independente do diagnóstico psiquiátrico, ele pode ser considerado como um suicida midiático. Semelhante as intenções de Mateus da Costa Meira, mais conhecido por "O Atirador do Cinema", ou "O Atirador do Shopping", que com uma metralhadora portátil disparou conta uma plateia de um cinema em São Paulo em 1999. E semelhante também aos homens bombas, provavel inspiração de Welligton.
Ele, como uma triste parcela da humanidade, ceifa a própria vida. Porém, infelizmente ele o fez causando comoção internacional. Agora, diante dos poucos fatos apresentados até agora, será que sua intenção era aparecer? Ser e ser visto? É fácil pensar assim de alguém que viveu a vida inteira na sombra. Dentro de sua mentalidade, talvez, ele tentou fazer um protesto contra o bullying (violência escolar). Alguém possa querer taxar ele como “coitado é doidinho”. Mas creio que no caso de Wellington foi mesmo o espetáculo midiático visto e inspirado no 11 de setembro.

Mas tentar classificar Wellington é apenas a ponta do iceberg. Agora esse trágico fato ocorrido em uma escola brasileira deve ser discutido com exaustão e são necessárias mudanças políticas e na conduta da sociedade. No caso dele, todos os fatores devem ser levados em consideração. Ele, até o que foi dito tinha uma mãe esquizofrênica, fazia uso de medicamentos, e era massacrado mentalmente na escola. Ele não foi o único do mundo e nem será o último. Porém a escola é responsável pela integridade física e mental de seus alunos. Não pode deixar ao ponto de deixar alguém ser arremessado na lata de lixo. Foi dito que além do combate ao bullying deve haver preparo por parte dos educadores para identificar potenciais mentes agressivas e deve haver por parte do governo federal, estadual e municipal programas sociais para tratar de causadores e vítimas de violências.
Sobre a segurança das escolas contra agentes externos, é da doutrina da educação brasileira não isolar as escolas, por considerar uma escola com livre trânsito de a comunidade ser mais segura. Assim como transparece que esta chacina não havia como ser impedida. Depois dos tiros em Columbine, todas as escolas estadunidenses instalaram detectores de metais em suas entradas. Seria essa uma solução para o Brasil? Há inúmeros exemplos de alunos entrarem armados contra o fato de a revista pessoal possa ser interpretada como uma forma de violência. Neste debate não me atrevo a adentrar e nem tenho propriedade para falar sobre o Batalhão Escolar da Polícia Militar.

Outra questão mal resolvida é o desarmamento. É fato que Wellington poderia fazer um massacre com um facão. Mas também é fato que a indústria bélica age como qualquer outra pelo lucro em detrimento a qualquer outra coisa, e tira sua culpa quando ocorrem fatos como esse. Também é fato que a maioria dos homicídios ocorridos no Brasil são praticados por armas de fogo (registradas ou não).
E contra aquele argumento que desarmamento irá desarmar os cidadãos de bens e deixar armados os bandidos. Muito dos alvos dos ladrões e dos latrocídas são as armas dos cidadãos de bens, na contramão do mantra “é para a minha segurança pessoal”. E se aquela pessoa se auto-denomina cidadão de bem, porque não limita o posse de sua arma apenas ao ambiente do clube de tiro. È a lei da ressonância: violência atrai violência ou gentileza atrai gentileza. Essa discussão é mais complexa porque no meio rural a realidade é diferente da cidade. Nas fazendas você está isolado e sem tempo hábil para a chegada de um socorro. O que não impede que as mesmas armas (legais e ilegais) sejam utilizadas para cometer crimes hediondos.

Ao fim do artigo é difícil chegar a conclusões, mas abre interrogações. Ainda mais diante que o “talvez”, foi o principal advérbio nas narrativas jornalísticas.

Por Pedro Wolff em 13/04/2011

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Um conto

Foi em curso de especialização em um Hotel Fazenda, onde uma turma de cerca de 30 estudiosos interessados em aprimorar sua língua portuguesa por meio de um curso intensivo com status de doutorado.


O objetivo de esses alunos resolverem desembolsar uma grana considerável e viajar para cerca de 200 quilômetros de Brasília, para um hotel fazenda era o lecionador. O professor Marcos Alcântara, autoridade no estudo da língua. Renomado e premiadíssimo professor de letras. Marcos Alcântara é autor de quatro gramáticas e dicionários em diferentes línguas, além do português. Seu amor pela origem lingüística, o transformou em um pesquisador de línguas extintas, para buscar cada sentido morfológico em sua origem.



Marcos Alcântara se desligou do trabalho do lecionamento de línguas há 12 anos, porque já se sentia seguro que seu trabalho como educador teria continuidade, pois havia deixado vários discípulos à altura de seu trabalho. Seus alunos lhe deram segurança que seu trabalho, seu legado teriam continuidade. Mas o velho mestre em nenhum momento abandonou seu amor, a língua. Ele dedicou esse tempo para estudar e realizar seus projetos de pesquisa.


Então o professor viajou pelo mundo, patrocinado por editoras de livros acampou em vários pontos da região pan-amazônica para fazer uma imersão nos troncos linguísticos ali existentes, e de que forma eles foram incorporados na nossa língua. Passou seis anos, no oriente, pesquisando as línguas que antecederam o grego, árabe e latim.

Seu único objetivo não foi enriquecer, ele nega ser uma vaidade intelectual. O mestre acredita na sua evolução como pessoa através de seus estudos, e guarda a responsabilidade de registrar tudo isso para que seu trabalho tenha continuidade em terra, para que futuros estudantes bebam da fonte de seu trabalho.


O campo de estudo de Marcos Alcântara transcendia fronteiras gramáticas e cientificas, pois como pesquisador fazia um amalgama de outros campos do estudo da grafia, como cabala e leitura de caligrafia.


Currículo e detenção de conhecimentos a parte, o que mais atraiu os 30 alunos com seus interesses distintos com interesses distintos, foi à fama do professor Dr. Marcelo de transmitir aos alunos o amor ao estudo da língua. Esse sentimento puro, é que segundo seus mais 440 alunos e milhões de leitores no mundo, que serve como vetor para o velho mestre transmitir o conhecimento para seus alunos.


Foi em Julho de 2009, todos hospedados em chalés de um hotel fazenda, que os 15 dias de aula foram ministrados magistralmente pelo professor Marcelo. Relatos ricos, de quem viveu o estudo da língua, trazia quase um personagem imaterial para guiar as aulas.


Nos quinze dias de cursos, eram quatro horas diárias ministração e dedicação da língua culta, das adaptações e discussões do que era ocorriam. O mestre gostava de ministrar suas aulas entre 16h às 20h, pois a maioria de suas inspirações vinham a noite. E dessa forma, sem avançar a noite adentro, dava a si mesmo e a seus alunos o dia inteiro para desfrutarem da natureza do hotel fazenda.






Lá pela décima e tanta aula, quando o professor dava seu ponto de vista as adaptações sofridas pela língua e dando exemplos de como deveriam ser a pronúncia original de uma língua morta. Um aluno, sentado atrás da primeira carteira à frente, justo o menos comunicativo de todos os alunos daquela turma. Porém, segundo a avaliação do mestre, era o que mais parecia criar novos mundos dentro de sua cabeça com o que lhe era apresentado.

Nessa aula, Marcelo Alcântara notou um certo desconforto do aluno quando ele ouviu o som que deveria ser das pronuncia de certas palavras, assim como a semelhança com palavras da nossa língua atual. Por intuição, o professor se fez crer que aquele seu aluno estava ativando conteúdos de sua memória remota.

Dando atenção especial para esse aluno, professor Marcelo se dedicou a transmitir indiretamente para aquele aluno sons inexistentes nos dias atuais, porém que já foram usados largamentos em eras pré-babilônicas, tanto na América como na Ásia. Sons extraídos de pajés, guardiões da tradição oral, em diferentes locais de diferentes pontos da amazônia continental. Intuitivamente, ou por sublimação, o professor foi pronunciando tradições orais a turma, mas mantendo uma discreta atenção a inquietação daquele aluno.

A sabatinada de sons inéditos para nossa civilização, tomou rumo quando o professor pronunciou uma frase, oriundas de seus estudos assírios babilônicos. Nessa hora, o aluno esguio, de camisa social branca, barba por fazer e óculos quadriculados, se arqueou e virou seus olhos para trás, deixando apenas a parte branca do globo ocular para fora.

Ninguém da turma percebeu a alteração no aluno, só o professor. Movido pela sede de aprendizagem, o professor se aproximou do aluno e gesticulando com as mãos continuo a sequência de sons, e o aluno foi ao ritmo das palavras do mestre foi flutuando em espiral para cima, e gerando uma situação pré-pânico em toda a turma de 29 alunos que assistia a cena bizarra.


Toda essa flutuação durou cinco segundo, até que uma névoa de fogo etéreo circulou em duas unidades pelo aluno, cuja feição anterior mansa de um nerd, assumiu um aspecto de um ente dominado pelo ódio, materializando em um urro prolixo e visceral o que parecia ser a dor de toda uma civilização. O professor pensou: - ele que agora berra a língua que eu antes pronunciava.



O professor estudava atentamente cada som emitido por seu aluno, enquanto a turma tinha reações diferentes. Apenas três, estudavam as palavras, uma parte da turma, já iniciava sua fuga, pois após sete segundos dessa performance bizarra do aluno. Os alunos começaram a entender na velocidade de raciocínio de seus cérebros o que poderia estar acontecendo.

Porém, um aluno, religioso ortodoxo, usou de seus reflexos mentais para uma reação desproporcional ao que se imaginaria.

Com o óleo de cozinha que o destino era a cozinha e álcool etílico, derramou todo os unguetos por móveis e cortinas, para depois atear fogo no recinto.

Com o incêndio todos fugiram, apenas o professor e o aluno possuído permaneceram. O professor, veterano de buscas por conhecimento, enxergou ali à hora de colher a retribuição de todo o seu trabalho de vida como pesquisador e amante da cognição. Ele não sentiu a necessidade de correr e salvar sua vida, pois naquele momento ele finalmente compreendeu a magia da palavra proferida. De que a materialidade gerada por um som pode transformar a realidade. E pensou nos recônditos de sua mente, que poderia estar ajudando aquele homem, que com uma divida imemorial antiga, parecia estar se livrando dela.

O professor, preocupado com seu legado, jaz tranquilo, pois aquelas aulas foram transmitidas pela internet. E está registrada na rede mundial de computadores para quem quiser ter acesso. A única coisa que não foi para o ciberespaço foi à interpretação que o mestre teve daquela situação. Deixando para quem assistir na internet, para aguçar a curiosidade: um final aberto.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Resgate da memória cultural Brasiliense

Me inspirei a escrever esse artigo após digitar no google: "Bloco da esquina do Capela".

Trata-se de uma marchinha carnavalesca, no longicuo ano de 2006. No extinto bar Capela, localizado na 408 norte. No local conhecido como Complexo de Bares Norte (CBN), ou PDS (Por do Sol).

Enfim, o que mais me preocupou foi só ter encontrado um site, onde havia apenas um comentário de uma menina citando o bloco. Mas faltou o registro da letra da música na internet.

Portanto a letra pode estar falha por conta de minha memória precária, e aceito eventuais correções.



Brasiliáááá, Brasiliááá, Brasiliáááá

Asa Nortaaaaa, Asa Nortaaaa, Asa Nortaaaa
Borogodó, borogodó, borogódo
Sassaricááá´, sassaricá sassaricá

O bloco da esquina do capela meu amor
É animal, é visceral é canibal
Quase um prazer sexual
Tranxxxs... cendental


...

Tai, essa vai para aquela corrente ideológica que menospreza a cultura barlesca, dizendo ser um antro da perdição. Quando na realidade, quando bem intencionado é um pólo catalisador de culturas. E ócio criativo.



P.S
Na quarta-feira de cinzas daquele distante ano. O frevo começou cedo, nas primeiras horas da manhã. Enquanto o Pacotão desfilava com o hit "O problema do Crescimento".

O bloco da Esquina do Capela, resgatava o carnaval de rua. Sem som mecânico, com todas as letras cantadas no gogó e instrumentos musicais. Cheguei no meio da tarde, e o negócio tava tão bom que todas as biritas da casa, assim como os copos haviam terminados.

Me lembro de uma cena marcante, de um morador de rua com seu filho no colo. Ele emocionado, queria transmitir a alegria do momento para seu pequeno filho. Que inocente, não entendia nada.


segunda-feira, 27 de julho de 2009

Panamazônia

















“OTCA é um grande mecanismo de integração, temos um bioma extraordinário e o mais importante é que fornece ao planeta 20% da água doce mundial”, Rosalia Arteaga..


Indiferente a posições conspirólogas, nacionalistas, regionalistas e afins... A floresta amazônica deve ser encarada com um Bioma só. E esse bioma transcende a fronteiras geopolíticas, mas pode sim se organizar politicamente numa visão pan-amazônica, no caso diplomática.

Nessa entrevista resgatada do fundo do baú, da época de estudante do autor que não conseguiu publicar, a então Secretária geral da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) Rosalia Arteaga, concedeu uma entrevista no ano de 2007 ao futuro blogger sobre a OTCA e a Amazônia continental.

Qual a importância da OTCA para a América do Sul?

R.A: Primeiro o valor agregado que a OTCA proporcionou aos países a adição de enxergar a bacia em seu conjunto e ter políticas comuns para preservação e o uso sustentável da Amazônia. Também é o exercício de soberania dos países sobre o território amazônico.

Qual a participação do Brasil nessa organização e quais os problemas da região?

R.A. Compartilhar um bioma que tem 40% do território da América do sul e em qualquer proposta de integração no âmbito econômico, a Amazônia tem possibilidades imensas. Por sua biodiversidade, pela sua água, por ser reguladora da temperatura mundial, e por seus vários recursos econômicos. Temos que encontrar um justo meio entre o aproveitamento econômico e a preservação do meio ambiente e o melhoramento da qualidade de vida das pessoas que moram na Amazônia. São vários os desafios e não é fácil viajar e movimentar mercadorias no Amazonas. Temos que melhorar as condições de comunicação aérea e fluvial. Isso é um grande desafio, buscar complementaridade entre os produtos de um país amazônico com o outro. Outra coisa, falta um banco de dados e um estudo de população para dizer quantas pessoas vivem na Amazônia continental.

E quanto a uma linha férrea ligando os dois oceanos da região?
R.A. Integrar oceanos através de linhas de trens e de comunicação é importante. Essa melhora tem que estar acompanhada com o desafio da proteção ambiental e o consenso com as pessoas que moram na região.

Há algum gargalo diplomático?

R.A. Não temos consenso de todos os países da Amazônia Legal, a Guiana Francesa não adere ao grupo.

Qual a participação do Brasil na organização?

R.A. O Brasil como partidário tem que ser um observador da OTCA por compartilhar do bioma. O Brasil tem uma grande vocação integracionista e nesses últimos anos estã abrindo as portas que antes não estavam abertas para a integração.

E como anda a influência externa na região?

R.A A Amazônia é rica e desperta cobiça. Agora os países membros têm que ter políticas adequadas para preservar a Amazônia dessas cobiças. Por outro lado nós e o mundo inteiro temos a responsabilidade de ajudar a mantê-la viva. Mas sem a diminuição da soberania dos países. Um boom de grandes mitos, ali mora muitas pessoas e grupos tradicionais e povos indígenas, com cada pais tendo sua liberdade e soberania da Amazônia legal

E se uma política interna do Brasil interferir com os interesses da organização?
R.A. A OTCA não tem com o que pronunciar sobre uma decisão interna do Brasil.

E quanto ao papo que há ONGs internacionalizando a Amazônia?

R.A. Existem ONGs boas e ONGs ruins. Muitas fazem um papel importante para a região e cada pais tem que fiscalizar as ONGs que atuam em seu território. Uma situação que só pode ser resolvida por cada um dos países.

Nota. A entrevista foi no ano de 2007 e Rosalia Arteaga afirmou na data que ainda não havia sido feita uma reunião dos presidentes da Amazônia, mas felizmente já teve de chanceleres e ministros de turismo. Seria ótimo fazer da OTCA parte da construção da comunidade sul americana das nações. É tão importante a OTCA ser parte dessa iniciativa.


ROSALIA ARTEAGA é ex-presidente do Equador e membra do conselho editorial da enciclopédia britânica.