terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Um conto

Foi em curso de especialização em um Hotel Fazenda, onde uma turma de cerca de 30 estudiosos interessados em aprimorar sua língua portuguesa por meio de um curso intensivo com status de doutorado.


O objetivo de esses alunos resolverem desembolsar uma grana considerável e viajar para cerca de 200 quilômetros de Brasília, para um hotel fazenda era o lecionador. O professor Marcos Alcântara, autoridade no estudo da língua. Renomado e premiadíssimo professor de letras. Marcos Alcântara é autor de quatro gramáticas e dicionários em diferentes línguas, além do português. Seu amor pela origem lingüística, o transformou em um pesquisador de línguas extintas, para buscar cada sentido morfológico em sua origem.



Marcos Alcântara se desligou do trabalho do lecionamento de línguas há 12 anos, porque já se sentia seguro que seu trabalho como educador teria continuidade, pois havia deixado vários discípulos à altura de seu trabalho. Seus alunos lhe deram segurança que seu trabalho, seu legado teriam continuidade. Mas o velho mestre em nenhum momento abandonou seu amor, a língua. Ele dedicou esse tempo para estudar e realizar seus projetos de pesquisa.


Então o professor viajou pelo mundo, patrocinado por editoras de livros acampou em vários pontos da região pan-amazônica para fazer uma imersão nos troncos linguísticos ali existentes, e de que forma eles foram incorporados na nossa língua. Passou seis anos, no oriente, pesquisando as línguas que antecederam o grego, árabe e latim.

Seu único objetivo não foi enriquecer, ele nega ser uma vaidade intelectual. O mestre acredita na sua evolução como pessoa através de seus estudos, e guarda a responsabilidade de registrar tudo isso para que seu trabalho tenha continuidade em terra, para que futuros estudantes bebam da fonte de seu trabalho.


O campo de estudo de Marcos Alcântara transcendia fronteiras gramáticas e cientificas, pois como pesquisador fazia um amalgama de outros campos do estudo da grafia, como cabala e leitura de caligrafia.


Currículo e detenção de conhecimentos a parte, o que mais atraiu os 30 alunos com seus interesses distintos com interesses distintos, foi à fama do professor Dr. Marcelo de transmitir aos alunos o amor ao estudo da língua. Esse sentimento puro, é que segundo seus mais 440 alunos e milhões de leitores no mundo, que serve como vetor para o velho mestre transmitir o conhecimento para seus alunos.


Foi em Julho de 2009, todos hospedados em chalés de um hotel fazenda, que os 15 dias de aula foram ministrados magistralmente pelo professor Marcelo. Relatos ricos, de quem viveu o estudo da língua, trazia quase um personagem imaterial para guiar as aulas.


Nos quinze dias de cursos, eram quatro horas diárias ministração e dedicação da língua culta, das adaptações e discussões do que era ocorriam. O mestre gostava de ministrar suas aulas entre 16h às 20h, pois a maioria de suas inspirações vinham a noite. E dessa forma, sem avançar a noite adentro, dava a si mesmo e a seus alunos o dia inteiro para desfrutarem da natureza do hotel fazenda.






Lá pela décima e tanta aula, quando o professor dava seu ponto de vista as adaptações sofridas pela língua e dando exemplos de como deveriam ser a pronúncia original de uma língua morta. Um aluno, sentado atrás da primeira carteira à frente, justo o menos comunicativo de todos os alunos daquela turma. Porém, segundo a avaliação do mestre, era o que mais parecia criar novos mundos dentro de sua cabeça com o que lhe era apresentado.

Nessa aula, Marcelo Alcântara notou um certo desconforto do aluno quando ele ouviu o som que deveria ser das pronuncia de certas palavras, assim como a semelhança com palavras da nossa língua atual. Por intuição, o professor se fez crer que aquele seu aluno estava ativando conteúdos de sua memória remota.

Dando atenção especial para esse aluno, professor Marcelo se dedicou a transmitir indiretamente para aquele aluno sons inexistentes nos dias atuais, porém que já foram usados largamentos em eras pré-babilônicas, tanto na América como na Ásia. Sons extraídos de pajés, guardiões da tradição oral, em diferentes locais de diferentes pontos da amazônia continental. Intuitivamente, ou por sublimação, o professor foi pronunciando tradições orais a turma, mas mantendo uma discreta atenção a inquietação daquele aluno.

A sabatinada de sons inéditos para nossa civilização, tomou rumo quando o professor pronunciou uma frase, oriundas de seus estudos assírios babilônicos. Nessa hora, o aluno esguio, de camisa social branca, barba por fazer e óculos quadriculados, se arqueou e virou seus olhos para trás, deixando apenas a parte branca do globo ocular para fora.

Ninguém da turma percebeu a alteração no aluno, só o professor. Movido pela sede de aprendizagem, o professor se aproximou do aluno e gesticulando com as mãos continuo a sequência de sons, e o aluno foi ao ritmo das palavras do mestre foi flutuando em espiral para cima, e gerando uma situação pré-pânico em toda a turma de 29 alunos que assistia a cena bizarra.


Toda essa flutuação durou cinco segundo, até que uma névoa de fogo etéreo circulou em duas unidades pelo aluno, cuja feição anterior mansa de um nerd, assumiu um aspecto de um ente dominado pelo ódio, materializando em um urro prolixo e visceral o que parecia ser a dor de toda uma civilização. O professor pensou: - ele que agora berra a língua que eu antes pronunciava.



O professor estudava atentamente cada som emitido por seu aluno, enquanto a turma tinha reações diferentes. Apenas três, estudavam as palavras, uma parte da turma, já iniciava sua fuga, pois após sete segundos dessa performance bizarra do aluno. Os alunos começaram a entender na velocidade de raciocínio de seus cérebros o que poderia estar acontecendo.

Porém, um aluno, religioso ortodoxo, usou de seus reflexos mentais para uma reação desproporcional ao que se imaginaria.

Com o óleo de cozinha que o destino era a cozinha e álcool etílico, derramou todo os unguetos por móveis e cortinas, para depois atear fogo no recinto.

Com o incêndio todos fugiram, apenas o professor e o aluno possuído permaneceram. O professor, veterano de buscas por conhecimento, enxergou ali à hora de colher a retribuição de todo o seu trabalho de vida como pesquisador e amante da cognição. Ele não sentiu a necessidade de correr e salvar sua vida, pois naquele momento ele finalmente compreendeu a magia da palavra proferida. De que a materialidade gerada por um som pode transformar a realidade. E pensou nos recônditos de sua mente, que poderia estar ajudando aquele homem, que com uma divida imemorial antiga, parecia estar se livrando dela.

O professor, preocupado com seu legado, jaz tranquilo, pois aquelas aulas foram transmitidas pela internet. E está registrada na rede mundial de computadores para quem quiser ter acesso. A única coisa que não foi para o ciberespaço foi à interpretação que o mestre teve daquela situação. Deixando para quem assistir na internet, para aguçar a curiosidade: um final aberto.